A inserção social tem sido um dos fatores destacados como importantes para a CAPES. Essa inserção da área da administração na sociedade deve ser cada vez mais incentivada, e cobrada, pelos órgãos que regulamentam e fomentam a pesquisa no Brasil. No entanto, para alcançar esse objetivo, os pesquisadores da área de administração no Brasil enfrentam diversos desafios. Neste breve texto de opinião, apresento alguns (mas não todos) os desafios que encontramos como área para alcançar uma maior inserção social.

Um dos principais desafios é a falta de reconhecimento da importância da inserção social da pesquisa na própria sociedade brasileira. A inserção social é uma das metas da CAPES, mas a pesquisa científica ainda está muito distante da sociedade. Grande parte deste distanciamento é visto como culpa dos próprios pesquisadores. Porém, as dificuldades impostas pelo próprio sistema educacional brasileiro fazem com que a sociedade não compreenda, procure, ou respeite a pesquisa científica. Uma evidência disso é a grande quantidade de pessoas não vacinadas contra COVID-19 no país, apenas por convicções ideológicas que tornam-se blindadas à lógica científica. 

Outro desafio para a inserção social é a carência de investimentos para a pesquisa na área de administração. A pesquisa na área de administração é essencial para o desenvolvimento do país, porém, os recursos são escassos. Como a inserção social da pesquisa científica ainda é pouco reconhecida, os investimentos na área são ainda menores. Diante deste cenário, os pesquisadores da área enfrentam dificuldades para realizar suas pesquisas e alcançar seus objetivos. Exigir que, neste contexto de dificuldade, a pesquisa tenha uma contribuição significante e imediata para a sociedade torna-se uma encruzilhada difícil para o pesquisador. Ele precisa avaliar as opções entre empregar seus recursos (tempo, verba e intelecto) na consecução de artigos científicos publicáveis internacionalmente, ou em pesquisar temas relevantes para sua comunidade. Realizar as duas coisas ao mesmo tempo é um desafio para poucos. 

 A terceira dificuldade está relacionada às próprias instituições de ensino superior. A maioria das instituições de ensino superior no Brasil é particular, e sua principal finalidade é a geração de lucro. Isto significa que a pesquisa científica é, para muitas destas instituições de ensino, quase inexistente. Poucas instituições privadas fomentam a pesquisa. A pesquisa ainda é realizada majoritariamente pelas universidades públicas e, com isso, apenas uma parcela dos professores da área no Brasil podem efetivamente contribuir para a inserção social através da pesquisa. Adicionalmente, as instituições privadas que conseguem se engajar em pesquisa tendem a impor uma cobrança de resultados imediatos. Dada a natureza das relações entre a maioria das instituições privadas de ensino e seus pesquisadores, é cobrado que a pesquisa traga publicações relevantes em um prazo relativamente curto, o que é impossível na maioria das áreas do conhecimento e impossibilita uma relação maior com a comunidade. 

 Por fim, o quarto desafio está relacionado às dificuldades gerais da educação básica no Brasil. A pesquisa científica é uma atividade complexa que requer um alto nível de conhecimento. No entanto, a educação básica no Brasil sofre dificuldades, o que impede que muitos jovens tenham acesso aos conhecimentos necessários para serem pesquisadores. A precariedade da educação básica também afeta o ensino de administração, que tem seus cursos voltados para o mercado de trabalho. Como a educação básica é precária, uma parcela relevante dos estudantes não está preparada para enfrentar os desafios científicos e, consequentemente, a inserção social da pesquisa na sociedade. 

Existem, porém, algumas soluções de longo prazo que podem auxiliar à área da Administração a prestar maiores contribuições à sociedade. Uma delas é a valorização da pesquisa científica nos programas de mestrado e doutorado. A pesquisa científica deve ser incentivada e valorizada nas universidades, de forma que mais pesquisadores sejam formados e se comprometam com a inserção social da pesquisa. Além disso, é importante que as instituições de ensino superior invistam em pesquisa e na divulgação científica, de forma que ela seja cada vez mais reconhecida e valorizada pela sociedade. Por fim, a educação básica deve ser melhorada, de forma que mais jovens tenham acesso aos conhecimentos necessários para serem pesquisadores de sucesso. 

Este é um desafio que precisamos vencer juntos, como área. Trazer contribuições mais evidentes e palpáveis para a sociedade passa por uma conjuntura de desafios que precisam ser debatidos e abordados em conjunto.

Prof. Dr. Christian Falaster - PPGAd e PPGCC FURB